O Brasil passa por um momento difícil. A legitimidade das instituições nacionais está sendo posta em xeque. As manifestações que estão pipocando por todos os cantos do país representam uma conquista fantástica da nossa jovem democracia: o direito de se posicionar, criticar e discordar das decisões do governo, algo que, anos atrás, era simplesmente impensável. Porém, algumas perguntas precisam ser feitas sobre a origem e os verdadeiros objetivos dos diferentes movimentos que estão tomando as ruas. Por exemplo: quem financia este movimento supostamente apartidário que pede o impeachment da presidenta Dilma, com um aparato enorme dos meios de comunicação sendo preparado para a cobertura do evento, os locais sendo divulgados pelos jornais e diversas páginas na internet publicando tudo que há de mais negativo em relação ao Brasil? Um dos acusados disso é o homem mais rico do país: Jorge Paulo Lemann, dono da Ambev. Ele mantém o portal vemprarua.org, um dos sites que fomenta o discurso de “construir um Brasil melhor”, porém sem nenhuma profundidade política ou ideológica. Mas com que interesses?

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O capitalismo é implacável. A maioria das coisas que acontecem ao nosso redor diz respeito ao dinheiro e aos negócios. E, nesse caso, negócios internacionais. Outro grupo envolvido no movimento que tenta dar um golpe disfarçado de engajamento político na democracia brasileira é o Estudantes pela Liberdade (EPL), um grupo relacionado ao “Movimento Brasil Livre”, que é um dos principais articuladores do protesto do dia 15 de março. O EPL nada mais é do que uma filial brasileira do Students for Liberty, um grupo americano criado por David Koch, um dos homens mais poderosos dos EUA, dono da Koch Industries, que atua, entre outras coisas, no ramo do petróleo. Não é mera coincidência o fato da Petrobrás estar no centro das discussões. Se dependesse de governos anteriores a Lula e Dilma, provavelmente o pré-sal nem teria sido descoberto. Caso fosse, provavelmente já estaria nas mãos de investidores estrangeiros. Se dependesse deles, a Petrobrás se chamaria hoje Petrobrax e atenderia unicamente aos interesses de seus investidores e do mercado, sem dar nenhum retorno ao povo brasileiro. Havia todo um processo de desmonte da empresa, o investimento em tecnologia e pesquisa não era mais prioridade. O terreno estava preparado para o processo de privatização. É no mínimo ingênuo pensar que pessoas como David Koch entram em algum jogo para perder.

Ir para as ruas é uma conquista legítima e um direito inegável do povo brasileiro. Mas os motivos precisam ser do interesse dos trabalhadores, e não dos especuladores, dos grandes empresários, dos magnatas e do mercado internacional. Quem “não aguenta mais corrupção” deve lutar para resolver o problema de verdade, não apenas ser levado pelo ódio aos políticos, a um partido ou à política em si. A luta por uma reforma política debatida através de uma constituinte exclusiva é o caminho mais adequado para realmente mudar alguma coisa. A corrupção que permeia as instituições brasileiras é endêmica, não começou hoje. Está nas raízes da formação do Brasil, e é alimentada por empresas e pessoas que se beneficiam dela. Precisamos mudar essa cultura. Países que diminuíram a corrupção em suas instituições são aqueles que consolidaram sua democracia e criaram mecanismos efetivos de controle social. A luta por uma reforma política que elimine o poder das empresas, dos latifundiários e de outros setores nos processos eleitorais é o que deveria unir todos os brasileiros neste momento, e não um impeachment sem fundamento jurídico e que desrespeita a escolha legítima de mais de 50% do povo brasileiro, que escolheu um projeto para o Brasil representado pela presidenta Dilma. Quem tem interesse em fragilizar a democracia brasileira? Quem se beneficiaria com o enfraquecimento da Petrobrás? Por que a Folha de S. Paulo está divulgando os locais das manifestações de domingo? Sair por aí pedindo o impeachment da presidenta pode soar muito politizado, mas não é. Apenas torna o debate político raso e favorece grupos que estão de olho nas sobras de um possível desmoronamento da democracia brasileira. Vamos sair às ruas e lutar sim, mas pelos trabalhadores, não pelos mais ricos. Sim à democracia e não ao golpe!

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