Trabalhadores dos Correios estiveram nesta quarta-feira (9) na Câmara de Curitiba para defender a manutenção da empresa como pública e falar de seu papel estratégico para soberania e desenvolvimento do país. Uma das estatais mais importantes no pacote de privatizações anunciado em agosto pelo governo Bolsonaro, os Correios estão presentes em todos os 5.570 municípios do Brasil e empregam diretamente mais de 105 mil pessoas. No Paraná são 508 agências e mais de 53 mil empregos.
Após quatro anos de prejuízos, a empresa voltou a registrar lucro de R$ 667 milhões, em 2017, e R$ 161 milhões, em 2018, o que fez com a estatal entrasse na mira da sana privatista do presidente do Jair Bolsonaro. Esse tema foi levado ao plenário da CMC por Marcos Rogério Inocêncio e Ezequiel Dutra, diretores do Sindicato dos Trabalhadores nos Correios no Estado do Paraná (Sintcom-PR), que foram convidados pela vereadora Professora Josete (PT) para falarem no espaço da tribuna livre. Também de iniciativa da parlamentar, foi aprovada por unanimidade uma moção de apoio e solidariedade à empresa pública.
A melhora na saúde financeira dos Correios, segundo os trabalhadores, enfraquece o discurso de ‘desestatização’ que diz que o Estado deve se livrar de empresas públicas que estão no ‘vermelho’. “Os Correios não são deficitários, eles caminham com suas próprias pernas. As empresas privadas querem a logística dos Correios, pois ela funciona melhor que qualquer outra empresa. Não tem outra que se iguale”, afirmou Inocêncio.
O dirigente sindical lembrou que a estatal mantêm apenas o monopólio na distribuição de cartas e telegramas. Já o segmento de encomendas é de livre concorrência, com inúmeras transportadoras nacionais e internacionais atuando. Neste item, a estatal detêm mais de 90% da preferência das empresas na hora de enviar suas mercadorias para os seus clientes, e sua qualidade operacional é superior ao de seus concorrentes, com índices superiores a 98% de entregas no prazo. Ademais, a empresa mantém tarifas acessíveis que impedem a formação de cartel no mercado privado.
Além de lucrativa, a estatal cumpre uma função social e é fundamental para execução de políticas públicas. “Os Correiros desenvolvem e participam de importantes programas sociais, como o Jovem Aprendiz; o Começar de novo, com inserção de pessoas em regime semiaberto; o trabalho voluntário junto à instituições. No Natal levamos o Papai Noel e as doações para comunidades carentes”, disse Inocêncio.
Os representantes sindicais destacaram que os maiores prejudicados com uma eventual privatização seriam os pequenos municípios, com itens como emissão de CPF; além de cidades que dependem dos Correios para entrega de remédios e vacinas. “Numa possível privatização, será que essas empresas privadas terão como chegar até lá, se não for através dos Correios? Na questão das entregas de encomendas, muitas delas acontecem porque as empresas pagam para os Correios”, destacou Dutra. “São 350 anos de história, que não podem ser jogados na lata do lixo. Vivemos um momento de desemprego e estamos preocupados. Todo dia sai uma noticia na mídia de que querem privatizar os Correios”, acrescentou.
Para Professora Josete, é preciso que toda a população se una pela manutenção dos serviços públicos e de qualidade dos Correios. A vereadora citou que a luta contra a privatização da empresa não deve ser uma bandeira da “esquerda ou da direita”, mas de todos que são a favor da soberania e desenvolvimento do país. “Os Correios têm tido lucros e garantido um serviço de qualidade à população, chegando aos municípios mais longínquos, onde o serviço privado não alcança. Temos orgulho dessa empresa e de seus serviços”, enalteceu a parlamentar.
O serviço postal brasileiro é regido por princípio constitucional, que estabelece que deve ser público e universal. Para ser aprovada, a privatização dos Correios precisa ser aprovada por 3/5 dos parlamentares em votação em dois turnos, na Câmara e no Senado. Deputados e senadores que compõem a Frente Parlamentar e Popular em Defesa da Soberania Nacional já se posicionaram contrários à venda da estatal. A privatização dos Correios também foi tentada durante os governos Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e Michel Temer (2016-2018), sem sucesso.
Foto: Júlio Carignano