A cada chuva forte o caos. Enchentes, alagamentos, grande volume de água invadindo residências, móveis, roupas e eletrodomésticos perdidos. Realidade cotidiana das grandes capitais. Dias atrás São Paulo ficou alagada pelas chuvas, moradores ficaram ilhados e 12 pessoas morreram em virtude de deslizamentos.

Em Curitiba, os temporais ocorridos entre fevereiro e março provocaram estragos em várias regiões, especialmente nos bairros periféricos. Um dos locais mais afetados foi o Parolin, onde a comunidade ainda computa as perdas das fortes chuvas da última semana do mês passado, especialmente de 21 de fevereiro, quando em menos de duas horas choveu o equivalente a 80% do volume de chuvas previsto para todo o mês.

Uma obra para conter as cheias do rio Pinheirinho e seus afluentes (que inclui o rio Vila Guaíra e os córregos do Curtume, Santa Bernadete e Henry Ford) foi iniciada em 2016, porém segundo relatos da comunidade, a morosidade tem dificultado ainda mais a vida dos moradores da região. Prevista para terminar em 2020, ela deva se estender por mais uns cinco anos.

Com investimento de cerca de R$ 140 milhões, as obras fazem parte de um conjunto de investimentos de mais de R$ 400 milhões do PAC Drenagem e Gestão de Riscos de desastres naturais, financiadas pelo Ministério das Cidades e pela Caixa Econômica Federal. “A gente sabe que toda a obra causa problema. Se a gente mexer num banheiro em casa já dá transtorno.Estreitaram demais a calha do rio e ela ficou mínima. Tudo bem que foi muita chuva, mas sempre suportou”, destaca o morador Ronaldo José Santos.

Andreia de Lima, liderança comunitária do Parolin, foi uma das pessoas que tiveram sua residência invadida pelas águas da chuva. “Toda chuva é a mesma história, já nos tornamos PDH em enchente”, comenta.”Desde que abriram os rios a coisa só piorou. Antes a gente levava 20 minutos para retirar as águas das casas. Nessa última enchente demorou uma hora para tirar tudo”, completa.

A aposentada Solange Marques da Silva viu a casa de seu filho Tiago ser totalmente destruída. “Morei 20 anos ali naquela casa e agora meu filho estava morando lá. Mudei para lá desde a primeira deslocação que a Cohab fez com a gente. Ele acabou perdendo tudo, agora está morando com o pai dele e meus netos morando com minha outra filha”, disse a mulher em frente aos escombros da antiga moradia. “A hora que a gente chegou a água já batia aqui (mostra a altura da cintura)”, completa.

Além de perda de móveis, eletrodomésticos e roupas, algumas pessoas perderão após a finalização da obra. É o caso de Jessica Luana Dreviani. Ela conta que no projeto original de abertura do córrego ela perderá 15 metros do terreno que hoje reside com sua mãe. “Falaram que não teremos qualquer indenização em relação a isso. Já não chega tudo que estamos perdendo desde que a obra iniciou”, disse Jessica, que coincidentemente fez aniversário no dia da última enchente. “É o presente que ninguém quer receber”, cita.

Morador do Parolin há quase 40 anos, Evaldo Soares cobra uma reunião da comunidade junto ao prefeito Rafael Greca, o secretário de Obras do município Eduardo Pimentel e o engenheiro responsável pela obra. “Eles precisam esclarecer o que estão fazendo aqui, pois desde que iniciaram essas obras é só transtorno. O que deveria vir para melhorar nossa situação só tem trazido o caos”, comenta. Ele também cobra uma presença da Defesa Civil e do Departamento de Limpeza Pública. “Dessa vez a Defesa Civil não apareceu aqui. Pedimos também uma caçamba para retirar o lixo que está acumulando em frente as casas, mas até agora nada”, aponta.

Pedido de informações

Os transtornos causados pelas obras no Parolin foram debatidos nesta semana na Câmara Municipal de Curitiba. A convite da comunidade, a vereadora Professora Josete (PT) esteve no local e visitou famílias que foram bastante afetadas pelos temporais. “Moradores da comunidade entraram em contato e pediram para trazermos esse debate à Câmara, pois querem mais esclarecimentos dos responsáveis pelas obras. Diante disso faremos um pedido de informações à Secretaria de Obras e também iremos solicitar esses contratos”, disse a vereadora.

Para Josete, o atraso da entrega da obra representa desperdício de dinheiro público. “Não interessa em qual gestão foi iniciada essa obra, nosso papel enquanto legisladores é fiscalizar e cobrar que ela seja agilizada. É preciso que a Secretaria de Obras e a empresa responsável apresente uma resposta à comunidade”, apontou.

Confira abaixo relatos da comunidade do Parolin.

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