A vereadora Professora Josete (PT) fez uma homenagem nesta segunda-feira (19), na Câmara de Curitiba, à vereadora do PSOL do Rio de Janeiro Marielle Franco, assassinada no dia 14 junto com o motorista Anderson Pedro Gomes. A parlamentar leu um poema da escritora e poetisa carioca Anielli Carraro que lembra da ex-moradora da favela da Maré e que expressa o sentimento de milhares de mulheres e homens que lutam por justiça social.
A execução de Marielle, segundo a vereadora, representou a morte de um símbolo de luta pela igualdade. A parlamentar falou sobre o extermínio da população negra nas periferias. “Todos os dias perdemos vidas de jovens negros e negras no país. Esses assassinatos, assim como o de Marielle, tem cor e classe”, comentou.
Professora Josete lembrou do trabalho parlamentar de Marielle Franco, que tinha como uma de suas bandeiras a denúncia da violência contra a população negra e das favelas, além de citar sua participação como relatora de uma comissão criada recentemente na Câmara Municipal do Rio de Janeiro para acompanhar violações na intervenção militar na capital fluminense.
Para Josete, o crime que tirou as vidas de Marielle e Anderson, acontece em momento de uma crise civilizatória no país. “É um momento de estado de exceção e não podemos se calar. Essa intervenção no Rio de Janeiro é um balão de ensaio para outras intervenções. Não vemos uma intervenção de políticas públicas de prevenção, de saúde, de educação, de assistência social. Vivemos um momento de ameaças, de desrespeito aos direitos humanos, de uma crise civilizatória”.
Professora Josete rechaçou as declarações daqueles que, de forma pejorativa e maldosa, afirmam que a luta pelos direitos humanos é a “defesa de bandidos”. “Defendemos a justiça social”, contrapôs a vereadora, que concluiu seu discurso com a palavra de ordem: “Marielle, presente!”
Notas de pesar – Na quinta-feira (15), o mandato da Professora Josete emitiu uma nota de pesar e solidariedade aos familiares de Marielle e Anderson. A Câmara de Curitiba também emitiu uma nota em memória à Marielle Franco, destacando que com bravura e honradez, ela lutou contra as injustiças e a violência da qual acabou sendo vítima. A nota, assinada pela Mesa Diretora, cobra punição aos responsáveis pelo crime que “feriu a democracia e a liberdade parlamentar”.
Confira abaixo o poema lido pela Professora Josete na Câmara.
Morreu.
Morreu a preta da maré, a negra fugida da senzala que foi sentar com “os dotô” na sala e falar de igual pra igual com “os homi”.
A negra que burlou a fome de saber, que fez crescer dentro dela, o conhecimento.
Aquela, que por um momento de humanidade, sonhou com a justiça, lutou por liberdade e ousou ir mais alto, do que permitia sua cor.
“Mas preta sabida, não pode! Muito menos pobre! Não tem valor.”
Diziam as más línguas na multidão.
E ela ousou tirar seus pés do chão.
Morreu.
Morreu a “preta sem noção”, que falava a verdade na cara do patrão, que carregava a coragem, como bagagem, no coração.
O tiro foi certo, acertou com maldade, ecoando seco no centro da cidade.
Anielli Carraro – Poeta de Volta Redonda/RJ