Na última quarta-feira (14), cinco representantes das cerca de 50 entidades e movimentos que compõem o comitê paranaense do Plebiscito Popular por um Novo Sistema Político, concederam entrevista coletiva no Sindicato dos Jornalistas. Os mais de 350 comitês espalhados pelo país são autoorganizados por entidades e movimentos locais que acreditam na necessidade de rever o sistema político brasileiro. A proposta global é promover a informação e mobilização da sociedade para uma consulta popular na semana do Sete de Setembro, ainda em 2014.
“O povo sente que não pode modificar a sociedade e é por isso que temos uma necessidade de ampliar a participação política por meio da reforma”, resume Marlei Carvalho, presidenta da APP-Sindicato. A fala dela é corroborada por Toni Reis, da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais – ABGLT e do Grupo Dignidade: “Há uma sub-representação da sociedade no Congresso Nacional. A reforma é essencial para que ele passe a refletir a população LGBT, negra, mulher, jovem, trabalhadora e assim por diante”.
Porque uma constituinte exclusiva?
De acordo com os presentes, a constituinte vem para que a reforma política não seja feita pelos representantes eleitos sob o sistema atual, já que é um modelo que beneficia a continuidade deles no poder. A grande questão é que essa maioria representa os interesses de uma minoria, que por sua vez tem acesso à maioria dos recursos disponíveis. A base desses políticos é o 1% da população que detém grande parte da riqueza do país e do mundo.
É por isso que um dos pontos principais da reforma política é o financiamento público de campanha eleitoral. “Senão não vamos conseguir modificar o parlamento, pois não há condições de fazer campanha no improviso ou só através de redes sociais”, explica Toni Reis. Para os presentes, na construção de um novo sistema político, é essencial que o parlamento espelhe a diversidade da sociedade. “Quem paga a banda escolhe a música. Os interesses do povo brasileiro ficam completamente reféns desse rabo preso dentro da política”, acusa Hellen Lima, do Levante Popular da Juventude.
“Estamos nos mobilizando para discutir um novo processo político no país que permita avançar em pautas que são emperradas pelas limitações do sistema atual”, afirma Hellen. Inclusive, segundo Regina Cruz, presidenta da CUT-PR, foi resolução do congresso nacional da entidade que só a reforma política vai permitir novos avanços. O consenso é compartilhado por Marlei, da APP-Sindicato. “Em nossa próxima conferência, que deve reunir cerca de 70 mil filiados no estado inteiro, o plebiscito é um dos eixos temáticos”, assegura ela. Para os presentes, a prioridade agora é a formação.
Politização do debate
Grande parte da finalidade do plebiscito é o que vem antes do “sim” ou “não” a uma constituinte exclusiva para fazer a reforma política. Tem a ver com a circulação de informações e a ampliação do alcance dos debates que estão sendo pautados pela campanha. “É um exercício de participação. Para levar à mudança, os movimentos que fazem democracia direta devem pautar a própria política representativa e suas instituições para obter acesso aos mecanismos da democracia”, explica Michely Ribeiro, da Rede de Mulheres Negras.
Assim, colocar a pauta na boca das pessoas, da própria mídia e do Estado é uma maneira de provocar o debate e a conscientização do povo no sentido de ter subsídio para formar opinião em prol ou contra a realização da constituinte. “Importante é a discussão, a formação, senão vamos eleger os mesmos empresários, fazendeiros e fundamentalistas que estão no poder para fazer a reforma”, alerta Reis.