Com o mote “Mais direitos, nenhum retrocesso”, mulheres de diversos movimentos sociais, sindicais, partidos políticos, organizações e coletivos feministas participaram nesta quinta-feira (8) da marcha de Curitiba e região metropolitana alusiva ao Dia Internacional da Mulher. Elas saíram da Praça 19 de Dezembro, no centro da cidade, e marcharam rumo à Boca Maldita. Durante o trajeto, foram realizadas paradas para a realização de intervenções na Catedral, na Praça Tiradentes, e na Rua XV de Novembro, esquina com a Rua Dr. Muricy.
O ato, organizado pela Frente Feminista de Curitiba e região metropolitana, reuniu aproximadamente 3 mil pessoas. A cada parada para uma intervenção, as manifestantes abordavam um dos cinco motes da Marcha de 2018. Por meio de faixas, cartazes, poesia e apresentações culturais, as mulheres apresentaram suas pautas por direitos, contra a violência de gênero e contra os retrocessos sociais.
“Foram mais de dez reuniões em Curitiba com mais de 40 mulheres de vários movimentos e definimos nossos cinco motes; as mulheres nos espaços de poder, a soberania de nossos corpos, a diversidade, a luta contra violência e sobre as perdas de direitos no período de golpe”, explicou Anacélie Azevedo, representante da Marcha Mundial das Mulheres e diretora da Federação Única dos Petroleiros (FUP).
A luta por igualdade no mercado de trabalho esteve em pauta na manifestação. Apesar de serem a metade da população economicamente ativa nas vagas formais de trabalho, as mulheres ainda ganham em média 30% a menos que os homens desempenhando as mesmas funções. “Buscamos equidade salarial. É comprovado que a mulher estuda mais e mesmo assim ganha menos que os homens”, destacou a administradora Karine Moreira. Acompanhada de Sócrates, seu cão de estimação, a jovem afirmou que estava ali também por sua mãe e avó que sofreram com o machismo.
Outro desafio apontado pelas manifestantes ao longo das intervenções e falas é a ocupação das mulheres no espaços de poder. “É muito mais difícil para as mulheres chegarem e ocuparem os espaços de poder. Vivemos um período de um golpe que foi dado contra uma mulher. Temos visto senadoras, deputadas, sendo expostas em redes sociais por essa cultura machista e patriarcal. Neste momento de crise política que estamos passando, as mulheres que estão a frente nas lutas tem sofrido com o preconceito”, comentou Regina Cruz, presidenta da Central Única dos Trabalhadores no Paraná (CUT-PR).
Presente na marcha, a vereadora Professora Josete (PT) destacou que as mulheres com mandatos eletivos devem ir além dos debates internos no parlamento e participar das mobilizações na luta por direitos, em defesa da democracia e contra os retrocessos sociais. “Devemos estar nas ruas, juntas com os diversos segmentos da sociedade, neste caso o movimento das mulheres, com as feministas organizadas em seus movimentos, com as mulheres da periferia”, apontou a legisladora.
O respeito a diversidade e as especificidades marcou a mobilização nas ruas de Curitiba. O racismo e o sexismo presente no cotidiano de vida das mulheres negras foram pautados pelas militantes do movimento. “Sofremos com duas opressões que se somam: a opressão de gênero e de raça. As mulheres negras são as maiores vítimas de feminicídio, violência doméstica, agressões e estupros”, apontou Juliana Mittelbach, da Marcha Mundial das Mulheres e da Rede de Mulheres Negras.
Dados divulgados pelo Mapa da Violência revelam que mulheres negras são as principais vítimas de assassinatos entre as mulheres. A cada 1 hora e 50 minutos uma mulher negra morre. “As mulheres negras são as principais vítimas de estupros e de violência doméstica, estamos nos piores postos de trabalho e economicamente em condições piores”, lembrou Juliana.
A marcha foi encerrada na Boca Maldita, no centro da cidade, onde um ato lembrou os ataques aos direitos sociais, sobretudo das mulheres, após o Golpe de 2016 .
Texto: Gibran Mendes e Júlio Carignano