A Região Metropolitana de Curitiba ficou na terceira colocação no ranking geral do “Índice de Bem-estar Urbano – IBEU”, do Observatório das Metrópoles. Apesar do bom resultado, a metrópole paranaense apresenta desafios internos a serem superados para oferecer melhores condições de vida à totalidade da sua população. Segundo Olga Firkowski, Madianita N. da Silva e Liria Nagamine, a RM de Curitiba obteve o maior número de municípios com o pior resultado em infraestrutura urbana, sendo que 29% foram avaliados como ruim e 21% como muito ruim.

A confortável posição da Região Metropolitana de Curitiba – RMC, situada no ranking geral na terceira posição, atrás apenas de Campinas e Florianópolis pode, contudo, ocultar questões importantes e presentes no próprio IBEU, quando passamos à análise de cada uma das cinco dimensões que o compõe, revelando que em três delas a posição de Curitiba é preocupante, como será tratado posteriormente.

Do ponto de vista da diferenciação desse para outros índices, cabe ressaltar duas perspectivas: i) se trata de um índice construído para permitir uma visão do conjunto das região metropolitana e entre elas (IBEU global) e não apenas para cada um de seus municípios componentes, embora a informação municipal esteja também disponível (IBEU local), mas a intencionalidade do índice é lançar um olhar mais amplo sobre o conjunto da região metropolitana; ii) se trata de um índice que prioriza componentes de alcance coletivo e não individual, ou seja, aquilo que “a cidade deve proporcionar às pessoas em termos de condições materiais de vida” (RIBEIRO e RIBEIRO, 2013, p. 9). Eis, portanto, sua singularidade: permitir uma visão do conjunto da região metropolitana e priorizar elementos que estão além daquilo que as pessoas podem obter de modo individual.

Assim, uma vez proposto o índice cabe-nos, nesse texto, levantar alguns elementos que possam contribuir para a verificação de suas repercussões em Curitiba, do ponto de vista daquilo que o índice permite observar de modo mais preciso, bem como de alguns dos seus limites.

A posição da Região Metropolitana de Curitiba dentre o conjunto de RM analisados no Brasil

Como afirmado anteriormente, o resultado geral do IBEU para a Região Metropolitana de Curitiba esconde particularidades que devemos salientar, dentre elas, o fato de que das cinco dimensões analisadas, quais sejam: D1 – mobilidade urbana; D2 – condições ambientais urbanas; D3 – condições habitacionais urbanas; D4 – atendimento aos serviços coletivos urbanos e D5 – infraestrutura urbana, apenas em duas delas, D3 e D4, a RMC esteve posicionada dentre as RM’s que apresentaram melhores resultados. Nas três outras dimensões, D1, D2 e D5, sua posição foi, respectivamente, em sétimo lugar, oitavo lugar e sétimo lugar, esta última (D5) estando inclusive abaixo da média das regiões metropolitanas, como mostram os Gráficos a seguir.

 

 

Particularmente preocupante foi a dimensão da mobilidade urbana (D1), sobretudo em face de que Curitiba tem uma história de ações no âmbito do planejamento e de soluções de transporte, que não se revela no resultado do índice, ao contrário, é praticamente negada pelo mesmo. Tal se justifica pelo afirmado anteriormente: o índice global se relaciona ao conjunto da RMC e não apenas aos limites do município de Curitiba, esse sim, objeto de intervenções relativas ao planejamento urbano, transporte e mobilidade. Isso nos aponta de modo inequívoco a urgente necessidade de ampliação da visão e da escala de intervenção dos projetos e políticas públicas. O dado sobre a Dimensão 1 é revelador das contradições entre município e região metropolitana.

Assim, embora as cinco dimensões possuam desempenhos diferenciados, as mesmas também possuem pesos distintos na composição do índice, desse modo, sua posição final (terceiro lugar) é resultado da ponderação entre os pontos fortes e fracos da RMC em conjunto.

Portanto, o uso do índice para contribuir com a leitura da realidade, deve, necessariamente, considerar o exercício de olhar sobre o resultado geral, mas também de suas características de composição interna, ou seja, do desempenho de cada dimensão no contexto, sob pena de conclusões apressadas e por demais otimistas, como no caso da RMC.

Informações do Observatório das Metrópoles

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