Seminário reuniu diversas lideranças LGBT. Foto: Andressa Katriny/CMC
Seminário reuniu diversas lideranças LGBT. Foto: Andressa Katriny/CMC

Um tema que, infelizmente, ainda precisa ser discutido. Foi assim que a vereadora Professora Josete definiu a homofobia – e todos os preconceitos baseados na orientação sexual – na mesa de abertura do Seminário “Dia Municipal de Combate à Homofobia, Transfobia, Lesbofobia e Bifobia – Construindo Marcos e Respeitando a Cidadania”, realizado na manhã de hoje (21) na Câmara Municipal de Curitiba. Mesmo licenciada após uma cirurgia ortopédica, a vereadora fez questão de comparecer na abertura do evento. Como Josete não pôde continuar na mesa durante todo o Seminário, a presidência foi exercida pelo vereador Paulo Salamuni.

“É um tema que nós não gostaríamos de estar discutindo, mas enquanto for necessário vamos debater sim a homofobia e todos os preconceitos contra as pessoas por causa da sua orientação sexual e de sua identidade de gênero”, enfatizou Josete logo no início do evento. “Vamos lutar por uma sociedade que respeite a todos e todas”, salientou.

Diferentes perspectivas, mesma luta

Nas duas mesas que formaram o evento, uma de abertura e outra de debate, representantes de diversas entidades fizeram relatos sobre os problemas encontrados nos mais diferentes setores da sociedade. Mauricio Pereira, coordenador do Movimento Nacional da População de Rua, falou, por exemplo, sobre a situação extremamente delicada de gays, lésbicas e transexuais em situação de rua. “Essa parcela da população sofre com a violência vinda de todos os lados, a começar pelos agentes de segurança pública, como policiais e guardas municipais”, apontou.
Outra questão levantada durante o Seminário foi a homofobia dentro do ambiente escolar. Edevar Robson Padilha, assessor da secretaria de gêneros, relações étnico-raciais e direitos LGBT da APP-Sindicato, apontou a necessidade de combater o preconceito na escola, durante a formação dos jovens. Ele ainda acusou a Secretaria Estadual de Educação de não fazer este trabalho com professores e professoras. “Nosso trabalho no sindicato não deveria ser pedagógio, esse papel deveria ser da Secretaria de Educação do Estado, mas já que eles não fazem isso, nós fazemos. Lutamos por uma escola sem homofobia, sem racismo, sem preconceito”, frisou.

Em sua fala, Heliana Hemetério, da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Travestis e Transexuais (ABGLT) e da Rede de Mulheres Negras, salientou o papel do machismo na construção do preconceito. “Um homem gay é rebaixado porque tem desejos femininos, porque deixa de transar com mulheres e passa a transar com homens. Isso é inaceitável. Da mesma forma, é inaceitável para nossa sociedade machista que uma mulher não tenha prazer com homens. Se queremos debater homofobia, precisamos debater o machismo”, relacionou.

Heliana Hemetério falou sobre a importância da discussão de gênero. Foto: Bruno Zermiani
Heliana Hemetério falou sobre a importância da discussão de gênero. Foto: Bruno Zermiani

Barreiras e avanços

O dia 17 de maio foi estabelecido como Dia Internacional contra a Homofobia porque nesta mesma data, no ano de 1990, a Organização Mundial de Saúde retirou as características homossexuais da lista de doenças da entidade. Até então, a homossexualidade era vista oficialmente como um transtorno mental. Mas essa vitória, infelizmente, ainda não é de todos.

Segundo Rafaelly Wiest, do Transgrupo Marcela Prado, o transexualismo ainda é considerado um transtorno mental. “Esta que vos fala é uma doente mental, segundo a OMS. Esta conquista que gays e lésbicas tiveram em 1990 nós ainda não conseguimos”, lembrou. Durante sua fala, Rafaelly abriu espaço para a trans Rafaela Arcanjo e a coordenadora da Casa de Passagem Feminina e LBT, Vanessa Lang, falarem sobre o espaço, que foi inaugurado neste ano e atende mulheres em situação de violência em Curitiba.

Rafaelly Wiest, presidente do Transgrupo Marcela Prado. Foto: Andressa Katriny
Rafaelly Wiest, presidente do Transgrupo Marcela Prado. Foto: Andressa Katriny

Números

O ativista Márcio Marins, da ONG Dom da Terra, que ajudou a organizar o evento, trouxe números que comprovam a violência contra homossexuais em Curitiba. Segundo ele, a população LGBT é a segunda que mais denuncia violência em Curitiba, perdendo apenas para crianças e adolescentes. “20% das denúncias de violência em Curitiba são de atos contra a comunidade LGBT”, alerta.

Marins também afirmou que só em 2012 Curitiba deixou de ser a capital mais violenta para gays, lésbicas e transexuais, muito em função de ações como a criação da Secretaria Especial de Direitos Humanos e da criação de equipamentos da FAS que atendem pessoas LGBT em situação de risco. “Nós não queremos nenhum privilégio, só queremos viver sem sermos violados, psicológica e fisicamente”, resumiu. Por fim, Marins sugeriu que a discussão ocorrida no Seminário fosse recuperada e editada para que servisse como documento base para a Conferência LGBT que deve acontecer neste ano em Curitiba.

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