Foi aprovado por unanimidade nesta quarta-feira (11) na Câmara de Curitiba, o projeto de lei de Cidadania Honorária à professora Diva Guimarães, símbolo da luta antirracista no Brasil. A votação contou com a presença de militantes de diversos movimentos sociais convidadas pela vereadora Professora Josete (PT), autora da proposição.

A trajetória de Diva perpassa a luta de grande parte das mulheres negras deste país. Neta de uma mulher escravizada, ela nasceu na região de Jataizinho (PR), em 3 de agosto de 1940, em uma família pobre. Trabalhou como doméstica, em colheitas de algodão e ajudou a mãe, que era lavadeira e parteira. Concluiu o curso de Magistério em 1959, em Cornélio Procópio (PR) e se tornou alfabetizadora. Seguiu a jornada de estudos e graduou-se em educação física pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) na década de 1960.

Diva ainda cursou fisioterapia pela Universidade Tuiuti do Paraná (UTP). Aposentou-se após 40 anos de trabalho. Participou de campeonatos de basquete até os 33 anos, esporte que praticou até os 70 anos de idade. Foi a partir de uma fala em 2017, em mesa da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), ao lado de palestrantes como Lázaro Ramos, que passou a ser convidada para inúmeras atividades em todo o país para levar relatos sobre as dificuldades enfrentadas e superadas ao longo da vida.

“Naquele dia [da Flip], a professora Diva roubou a cena”, disse Josete. A participação em eventos em escolas e universidades, avaliou a vereadora, permite que ela “sensibilize estudantes sobre as feridas abertas pelo racismo”. “Diante da trajetória de grande representatividade para toda a população negra, da relevante contribuição social de todas as suas falas públicas, como também, em face de todo o trabalho desenvolvido desde os anos 1960 na cidade de Curitiba, justifica-se o título de Cidadania Honorária para a professora Diva Guimarães”, completou a vereadora.

 

Professora Josete e militantes que acompanharam a aprovação da Cidadania Honorária à Diva. Foto: Júlio Carignano


Militância destaca homenagem

Militantes que acompanharam a sessão também se manifestaram sobre o título concedido à Diva Guimarães. “É importante esse reconhecimento à professora Diva no espaço da Câmara de Vereadores, que ainda é um espaço muito conservador. Nós, mulheres negras, estamos felizes e representadas como essa homenagem proposta pela Professora Josete”, disse Santa de Souza, do Sindicato dos Técnicos da UFPR.

Militante do movimento negro e da Rede Lesbi do Paraná, Giorgia Prates destacou que Diva representa a sobrevivência na mulher negra na sociedade de Curitiba. “O que aconteceu hoje aqui [na Câmara] é o mínimo que a sociedade deve a população negra. A Diva como representante é fundamental”.

Aluna de Diva Guimarães no Colégio Estadual Loureiro Fernandes, Ana Smolka, do Sindicato dos Bancários, afirmou que a homenagem também simboliza a valorização das professoras da rede pública. “Nela [Diva] está expressa a honra que devemos a todas professoras da rede pública de Curitiba. Me sinto feliz de compartilhar este momento”.

Larissa Souza, presidenta da União Paranaense dos Estudantes (UPE), disse estar honrada por representar o movimento estudantil na votação. “A professora Diva é uma pessoa essencial para a luta das mulheres e dos negros dentro da universidade”, citou. “Ela é um símbolo da luta antirracista e serve de inspiração para outros jovens negros seguirem resistindo”, acrescentou Ariane Domborovski, do Coletivo Daisy da UFPR.

Para Adegmar da Silva, o Candiero, conselheiro nacional de Igualdade Racial e Gênero, a honraria à Diva é grito por justiça. “Esse título é dos 600 mil afrocuritibanos que hoje começam a se encontrar com seu passado, que é um passado de vitória. Uma vitória do povo afrocuritibano”, comentou.

Também estiveram presentes na sessão a professora Lucimar Dias, coordenadora do ErêYá – Grupo de Estudos, Pesquisas e Ensino em Educação das Relações Étnico-Raciais (ERER) da UFPR; Andréia de Lima, da Usina de Ideias; Léo Ribas, Liga Brasileira de Lésbicas; Leonardo Costa, da União Paranaense dos Estudantes Secundaristas (UPES); e Marli Teixeira, da Assessoria de Promoção da Igualdade Racial de Curitiba.

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