Autor: Câmara Municipal de Curitiba

A convite da vereadora Professora Josete (PT), a Câmara Municipal recebeu nesta quarta-feira (1º), durante a tribuna livre, integrantes da Comissão Estadual da Verdade – Teresa Urban, instituída em 2012, para falar sobre as violações dos direitos humanos praticadas no Paraná entre os anos 1964 e 1988.

A advogada e integrante do Comitê de Refugiados do Paraná, Ivete Caribé, chamou a atenção para a necessidade de se investigar e esclarecer os crimes cometidos durante a ditadura militar. “Não temos o poder de julgar, mas pudemos levantar os crimes e apontar os perpetradores dessas violações e trazer este acervo documental para a memória do Paraná”, disse.

Segundo Ivete, o relatório final da Comissão da Verdade, apresentado em 2014, reuniu a narrativas sobre diversos casos, com a indicação de vítimas, as circunstâncias, os agentes políticos e privados envolvidos, além das lideranças das cadeias de comando sobre os crimes cometidos contra os direitos humanos.

Representante do Fórum Paranaense de Resgate da Verdade, Memória e Justiça, Norton Nohama destacou que, embora houvesse a ideia de que no Paraná o regime de exceção havia sido “tênue, brando e pouco expressivo”, os dados apurados pela Comissão apontaram 400 prisões efetuadas nos primeiros dias de abril de 1964, pouco após a tomada do poder pelos militares, em 31 de março daquele ano. “A maioria dessas pessoas era de trabalhadores e boa parte deles ficaram detidos no presídio do Ahú”, lembrou.

Nohama falou ainda sobre a força da repressão citando vereadores e deputados no Paraná que foram perseguidos pelo regime e acabaram, inclusive, perdendo os mandatos. “Chama a atenção o monitoramento sobre os partidos políticos, o que era muito intenso. Como capital, Curitiba teve papel importante na coordenação e na execução das ordens do regime”. De acordo com Nohama, apenas no Paraná foram contabilizadas mais de 44 mil fichas individuais pertencentes aos DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), órgão do governo responsável por controlar e reprimir movimentos políticos e sociais contrários ao regime vigente.

“Eram cidadãos comuns, estudantes, trabalhadores, profissionais liberais de todas as áreas, um conjunto imenso de pessoas. Numa época em que Curitiba não tinha mais de 400 mil habitantes, os 44 mil fichados representavam quase que 10% da população”, salientou. Nohama ressaltou que as pessoas “fichadas” não eram apenas os resistentes ao regime, como sindicatos ou diretórios estudantis, mas que o monitoramento se estendia a religiosos e associações de moradores, por exemplo. “Os arquivos do DOPS são reveladores. Se vocês pesquisarem, podem até descobrir parentes que eram monitoradas pelo regime”, acrescentou.

O vereador Pedro Paulo (PDT) se declarou solidário a todos que foram vítimas da perseguição e da tortura durante o regime militar. “Sabemos que no Paraná, ao contrário do que se imagina, a repressão vitimou centenas de cidadãos”, disse. “Esta Câmara, inclusive, foi abrigo para inúmeras pessoas que foram perseguidas à época”, acrescentou o líder do prefeito, Paulo Salamuni (PV).

Proponente da tribuna livre, Professora Josete citou a presença de integrantes do Movimento Cultura Resistente e da Rede de Mulheres Negras. “Neste momento difícil queremos que o país avance e a corrupção seja combatida. Mas para citar uma frase de um jurista: não se combate a corrupção corrompendo a constituição. Temos que trazer isso para nossa reflexão”, finalizou Josete.

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