Hoje é um dia de tristeza, dor e sofrimento para nossa irmã, companheira / sóror, haitiana vítima do bárbaro crime de estupro coletivo em Mandirituba – PR!

Esta mulher, estrangeira migrante, negra, que em solo brasileiro busca refúgio e respostas para suas necessidades materiais e humanas foi brutalmente agredida, violada em sua dignidade, não só física e sexualmente, atos vis que lhes deixarão marcas indeléveis para o resto da vida, mas também psicologicamente por seu gênero e sua origem – ser mulher e ser estrangeira – nesta sociedade misógina, racista, xenófoba e de trabalho precarizado às migrantes. Questões estas que, por si, colocam esta mulher, numa escala de desigualdades, num extremo de desvantagens em relação às outras mulheres, não negras e não migrantes e, portanto, mais suscetível às barbáries deste mundo capitalista e estruturalmente machista.

Solidarizamos-nos também como mulheres nesta mesma sociedade patriarcal e de impunidade que naturaliza a cultura do estupro e a violência contra nossos corpos, pois que se tratar de um crime hediondo, que traz em si, vários outros crimes, todos abomináveis e para os quais não há justificativa e nem perdão!

Repudiamos a fala dos autores alegando que entraram apenas para roubar e por estarem “muito loucos” a violaram. Temos ciência de que se trata de uma ação machista e misógina, intrínseca ação violenta que fizeram ao casal em invadir sua casa, entendendo que o uso de substâncias psicoativas não pode ser usado como elemento amenizador de suas responsabilidades pelos crimes praticados, não sendo esta a causa do estupro: a causa disso é o patriarcado, o machismo, o racismo e o sexismo!

É terrível classificar a crueldade dos diversos crimes cometidos neste ato – a invasão domiciliar, o assalto, a violência física, a humilhação da mulher haitiana e de seu companheiro de vida, o estupro, a xenofobia, a tentativa de feminicídio … – mas é necessário: sabemos que o estupro coletivo é uma das práticas que envolvem a cultura do estupro, do machismo que alimenta e reproduz esta sociedade – É UM CRIME DE ÓDIO ÀS MULHERES! É um crime de ódio tão grande que chega a matar, eliminar a existência das mulheres, exterminando-as, aliando-se, assim, dois bárbaros crimes: o estupro e o feminicídio!

Um país que, atualmente governado por golpistas que desmontaram as políticas públicas de atendimento às mulheres, conquistadas com muita luta, ao contrário do que faz, deveria acolher, socializar, solidarizar-se com estrangeiros/as; este país nos constrange, posto que revela sua pior face: a da violência, do ódio, da intolerância, do desrespeito à diversidade de gênero, à cultura, à etnia e à raça, num único e multidimensional crime! Nos envergonha e nos humilha cotidianamente o Brasil e o Paraná, este que é o quarto no ranking nacional em feminicídio e o terceiro no crime de estupro.

Nós, da Marcha Mundial das Mulheres manifestamos publicamente nosso repúdio ao ocorrido à nossa companheira haitiana e seu companheiro e vimos a público manifestar nosso profundo lamento, vergonha e indignação para com este acirramento de um estado arbitrário que não nos defende, a nós mulheres, e que atenua crimes como estes em nosso país!

Manifestamos nossa completa revolta face à xenofobia e imensa sororidade à companheira/irmã haitiana, nos posicionando contra toda e qualquer forma de violência contra as mulheres, contra o machismo, o racismo e o patriarcado que mata todos os dias, que nos mutila e nos humilha!

Repudiamos os autores desse horrendo crime e exigimos das autoridades governamentais imediatas medidas de recomposição dos direitos violados dessa mulher grávida e do seu companheiro, em todos os aspectos: investigativos, punitivos e políticas públicas de acompanhamento e proteção social que possibilitem a ambos, em especial à nossa irmã, a superação de tamanha dor e sofrimento!

Manifestamos também nosso repúdio à xenofobia institucional que não propicia condições de vida digna a estes que migram para nosso país; repudiamos o estado brasileiro e paranaense por nos submeter a tamanha vergonha e humilhação frente aos nossos irmãos estrangeiros, em especial nossa irmã, haitiana, uma vez que, historicamente possui conhecimento dos dados de violências diversas e extermínio das mulheres e nada fazem para eliminar tais práticas, não investem na educação e na eliminação da cultura do estupro, não direcionam políticas de combate ao machismo, ao patriarcado e às violências de gênero!

Somos todas mulheres haitianas, brasileiras, migrantes, negras, trabalhadoras, e seguiremos em Marcha até que todas sejamos livres!

Curitiba, 18 de Maio de 2018.

Leave a Comment

Fale com a Jô