A tribuna livre da Câmara Municipal de Curitiba foi destinada hoje à memória. Um dos autores do livro Depoimentos para a História – A Resistência à Ditadura Militar no Paraná, o militante Antônio Narciso Pires, discursou a respeito dos 50 anos do golpe militar que instaurou uma longa ditadura no país a partir de 1964.

Pires abordou principalmente o aspecto civil do golpe. Para ele, a repressão ideológica sobre os mais pobres, que permeia a história do país, está diretamente relacionada à ditadura. “Aprendemos nos bancos da escola que Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil. Isto é uma mentira. Existiam mais de 400 povos indígenas, com 3 a 5 milhões de indivíduos no total, que estavam aqui há mais de 10.000 anos, segundo registros arqueológicos. Eles descobriram o Brasil. Colocamos todos os negros que foram escravizados neste país em uma mesma definição, quando eles formavam diversos povos, com línguas diferentes, culturas diferentes. Se não entendermos isso, não entenderemos o golpe de 1964”, relacionou.

O autor considera que a repressão histórica e ideológica que acontece no país, atualmente, inclusive, através da mídia e dos setores dominantes da sociedade, levaram à ditadura. “O golpe foi dado por que, pela primeira vez em 450 anos, o povo brasileiro estava indo às ruas para reclamar seus direitos e estava, de certa forma, começando a ser ouvido. A classe dominante respondeu a isso tentando dar este golpe desde 1954, conseguindo isso com sucesso em 1964”, apontou.

O militante e ex-preso político ressaltou que os reflexos do golpe e da ditadura são vistos até hoje no país. Em seu discurso, defendeu reformas na estrutura do país. “As reformas de base propostas por João Goulart antes da intervenção militar, como a reforma agrária, a reforma tributária, a reforma política, entre outras, nunca voltaram à pauta. Nós precisamos fazê-las”, pontuou.

Vereadora Professora Josete com Antônio Narciso Pires. Foto: Bruno Zermiani
Vereadora Professora Josete com Antônio Narciso Pires. Foto: Bruno Zermiani

A vereadora Professora Josete destacou a importância deste debate para a construção da democracia brasileira. “Nós tivemos pouquíssimos momentos de democracia no Brasil. É importante que tenhamos momentos como esse para que aqueles que ainda não são sensíveis ao tema tenham este conhecimento, para ajudarem a consolidar a democracia no país”, salientou.

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