Petroleiros e representantes de diversas entidades estiveram presentes na audiência. Foto: Bruno Zermiani
Petroleiros e representantes de diversas entidades estiveram presentes na audiência. Foto: Bruno Zermiani

A exemplo do que já acontece na Assembleia Legislativa do Paraná, a Câmara Municipal de Curitiba agora também conta com uma Frente Parlamentar em Defesa da Petrobras. O documento foi assinado ontem, durante a audiência pública “Defender a Petrobras é defender o Brasil”, por cinco dos nove vereadores necessários para criar um projeto deste tipo: Professora Josete, Pedro Paulo e Johnny Stica, do PT; o líder do prefeito na casa, Paulo Salamuni (PV); e Helio Wirbiski (PPS). As outras assinaturas, como a do presidente da Câmara, vereador Aílton Araújo (PSC), apenas precisam ser formalizadas. Com isso, a Câmara se posiciona contra os ataques que a empresa tem sofrido, tanto internamente, com os casos de corrupção, quanto externamente, vindos tanto de políticos quanto de empresas estrangeiras interessados no enfraquecimento da estatal.

“Estamos defendendo a soberania nacional. A Petrobras é um patrimônio de valor inestimável para o povo brasileiro”, definiu a vereadora Professora Josete, que teve a iniciativa tanto da audiência quanto da criação da frente. Diversas entidades estiveram presentes no evento de ontem, demonstrando a importância da empresa para todo o conjunto da sociedade. Além dos representantes do Sindiquímica e do Sindipetro, que estão organizando conferências como esta em outras cidades, e de representantes dos trabalhadores petroleiros, entidades como o Sismuc (Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Curitiba), a CUT-PR, o Senges (Sindicato dos Engenheiros do Estado do Paraná), a APP-Sindicato, o MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens), o jornal Brasil de Fato, o portal Terra sem Males, o deputado estadual Tadeu Veneri, representante da Frente Parlamentar em Defesa da Petrobras na Assembleia, e diversos outros estiveram presentes.

Vereadores presentes assinaram o documento que cria a Frente Parlamentar. Foto: Bruno Zermiani
Vereadores presentes assinaram o documento que cria a Frente Parlamentar. Foto: Bruno Zermiani

Futuro da educação

O presidente da APP, Hermes Leão, destacou o papel fundamental que a Petrobras tem e terá no futuro da educação brasileira. “Para lá em 2023 nós fazermos um balanço da educação e termos uma educação pública de qualidade, a Petrobras é um agente essencial”, apontou.

A Lei dos Royalties, aprovada em 2013, garante que 75% dos royalties do petróleo sejam destinados para a educação e 25% para a saúde. Além disso, o texto também garante que 50% dos recursos do fundo social do Pré-Sal também sejam destinados para estas duas áreas. Sem estes recursos, o cumprimento das metas do Plano Nacional de Educação, que prevê uma reforma radical na educação do país, seria inviável.

Eduardo Iarek, vice-presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes) em Curitiba, ressaltou a importância da empresa para a educação, além de apontar o valor simbólico da Petrobras para o Brasil, como uma empresa que atende os interesses públicos.

A importância dos trabalhadores

Por parte dos petroleiros, o presidente do Sindipetro – PR/SC, Mario Dal Zot, e o secretário de formação do Sindiquímica, Gerson Castellano, que estava representando também a FUP (Federação Única dos Petroleiros) demonstraram os avanços conquistados pela empresa nos últimos anos. “Em 2002, eramos pouco mais de 30 mil trabalhadores diretos, hoje somos 86 mil. Somos os primeiros a sofrer com a tentativa de destruição da Petrobras para abrir caminho para outras empresas”, apontou Dal Zot. Ela ainda afirmou que, até 2014, R$300 milhões estavam sendo investidos por dia em tecnologia na empresa. “A Petrobras desenvolveu a tecnologia para perfurar uma área como a do Pré-Sal. Ninguém nunca tinha perfurado uma área tão grande de sal. Quer dizer, nós encontramos o Pré-Sal, desenvolvemos a tecnologia, e agora que estamos muito perto de conseguir lucros, querem tirar da Petrobras a exclusividade na exploração”, enfatizou.

Castellano usou sua fala para desmentir algumas das inverdades divulgadas sobre a empresa. “A mídia diz que a Petrobras está quebrada. Se fizermos uma análise comparativa entre a Petrobras e outras petrolíferas ao redor do mundo, como a Chevron, a Shell, nós percebemos que isso não é verdade. Os resultados da Petrobras são melhores que os dessas empresas”, argumentou. No mês de agosto, a Petrobras atingiu a histórica marca de 1 milhão de barris de petróleo e gás natural retirados do Pré-Sal.

Os dois petroleiros falaram ainda sobre as denúncias de corrupção na empresa. Dal Zot apontou que o combate à corrupção é pauta dos trabalhadores muito antes da existência da operação Lava-Jato. Porém, salientou que a corrupção não pode ser desculpa para o sucateamento e a venda da empresa. “Há uma campanha contra a Petrobras que precisa ser combatida. A corrupção abre margem para oportunismos, como o PL do senador José Serra (PSDB) que tira da Petrobras a soberania na exploração e no refinamento do petróleo. E não é só esse PL que está em jogo, são vários outros que vão nesta direção também. O combate à corrupção é pauta dos trabalhadores há muito tempo. Queremos que os responsáveis sejam punidos e o dinheiro devolvido para os cofres da empresa, mas que ela continue recebendo investimentos. O sucateamento da empresa causou o afundamento da plataforma P-36 (em março de 2001), além de outros desastres, como o vazamento de 4 milhões de litros de petróleo no rio Iguaçu em 2000. Não queremos ver isso de volta”, alertou.

Ambos ainda criticaram o caráter seletivo das investigações da operação Lava-Jato, conduzidas pelo juiz Sérgio Moro, e a indignação, também seletiva, de uma parcela da população. “Se a indignação fosse contra todos aqueles que cometeram malfeitos, eu faria parte das manifestações, mas são apenas gritos de ódio contra um partido, mais especificamente o PT”, apontou Castellano.

Gerson Castellano apontou os avanços da Petrobras nos últimos anos. Foto: Bruno Zermiani
Gerson Castellano apontou os avanços da Petrobras nos últimos anos. Foto: Bruno Zermiani

Durante sua fala, Hermes Leão também havia criticado a forma como as investigações e a divulgação dos crimes estavam sendo feitas. “Combate á corrupção acontece com mais controle social. Debatemos a corrupção como se ela acontecesse só no serviço público, e não no serviço privado e até mesmo no dia a dia de grande parte da população”, salientou.

O tema das guerras que aconteceram nos últimos anos em disputas de território, devido principalmente ao imperialismo estadunidense, também foi levantado. Mario Dal Zot mostrou que, com a descoberta do Pré-Sal, o Brasil passará a ter a segunda maior reserva de petróleo do mundo, ficando atrás apenas da Venezuela. “Por muito menos os EUA invadiram o Iraque”, lembrou.

Reforma política e frente social

Robson Formica, coordenador nacional do MAB, enfatizou a importância da criação da frente parlamentar, mas fez um apelo pela criação de uma frente popular. “Precisamos trabalhar pela criação de uma frente popular e social para construir uma contra hegemonia, por uma Petrobras pública e a serviço do povo brasileiro. Temos que fazer um acumulo de forças sociais para impor a agenda da classe trabalhadora, independentemente do governo que seja eleito em 2018”,afirmou.

A preocupação foi compartilhada pelos presentes na plateia. Em diversas intervenções, pediu-se que a pauta da defesa da Petrobrás fosse levada para toda a sociedade, e não ficasse apenas entre os petroleiros e as direções sindicais. “Independentemente de quem esteja no governo, trabalhadores e trabalhadoras devem estar no poder. Essa pauta é de todas e todos os brasileiros”, sintetizou Josete.

Eduardo Iarek: financiamento privado está atrelado à corrupção. Foto Bruno Zermiani
Eduardo Iarek: financiamento privado está atrelado à corrupção. Foto Bruno Zermiani

Eduardo Iarek, da UNE, lembrou ainda da importância da reforma política para a discussão, uma vez que todo o escândalo de corrupção envolvendo a Petrobras tem origem no financiamento privado das campanhas políticas. “Não tem como a gente defender a Petrobras sem defender uma reforma política que defenda o fim do financiamento privado de campanhas. A corrupção e o financiamento privado caminham juntos”, acrescentou.

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